Wednesday, January 10, 2007

Jesus: Expressão da Moral Espírita (Primeira Parte)


Que a Doutrina Espírita não é personificada em ninguém todo espírita, neófito ou não, sabe. Entretanto, não há como negar que sua moral o seja. Na questão 625 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos Imortais qual teria sido o Espírito concedido por Deus aos homens para lhes servir de modelo e guia. Responderam-lhe, numa palavra: “Jesus”.
Em verdade, o Cristo personifica a Ética contida nas Leis Divinas e é apresentado pelos Benfeitores como o seu maior intérprete entre nós, em todos os tempos – as perguntas subseqüentes (626 – 627) no-lo mostram. Allan Kardec percebe isso com tamanha argúcia que estabelece, sob a inspiração do Espírito de Verdade, a divisão didático-metodológica do Evangelho, contida na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em cinco temas dele componentes: “os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que alicerçaram os dogmas da Igreja e o ensino moral”. Vai dizer ainda que sobre os quatro primeiros temas sempre coube controvérsia, mas quanto ao quinto tema, o ensino moral, não.
Observadas as controvérsias teológicas ínsitas no próprio Cristianismo, percebe-se a correção do pensamento do Codificador. Inúmeras correntes filosóficas cristãs e inúmeras igrejas surgiram das contestações interpretativas relativas aos quatro primeiros temas. Por outro lado, nenhuma delas nega a excelência dos postulados ético-morais revelados por Jesus à Humanidade.
Jesus apresentou-se no cenário histórico de uma civilização que houvera aprendido, durante dois mil anos, a reverenciar as leis mosaicas através dos estudos que eram realizados nas escolas, em regime de repetição. O mnemonismo típico das leituras repetitivas lhes permitia introjetar todo o seu conteúdo legal e heteronômico, mas sem a devida reflexão. Com o passar dos anos, como ocorre a qualquer norma secular, o caráter impositivo desses preceitos foram se mostrando insuficientes para confrontar os desafios impostos pela evolução dos costumes, da historicidade do povo. O descompasso entre regras, muitas delas esdrúxulas para os novos tempos e baseadas no princípio do “olho por olho, dente por dente”, e as novas aspirações geradas pelo progresso intelectual do povo, fez surgir o desconforto predisponente e o ambiente adequado à pregação de Jesus.
Logo João Batista apresenta-o como aquele que batizará os judeus “com fogo e com o Espírito Santo”. Curioso notar que, na Semiótica, ramo da Filosofia que estuda os signos ou símbolos, a luz é a representação do saber, do conhecimento. Então, o Carpinteiro Galileu inicia sua caminhada e suas prédicas, que tinham por finalidade mostrar ao povo que as leis, em verdade, não estavam contidas nos textos manipulados pelos escribas, fariseus e outros intérpretes aproveitadores, que distorciam os ensinamentos, coonestando seu entendimento e escondendo a verdade dos simples. Ilustrava, isto sim, a presença da lei na consciência de cada qual. Seu trabalho foi – e é – o de iluminar consciências. Contudo, não o pôde fazer com uma linguagem direta, por causa do pouco desenvolvimento cultural da época.
Jesus utilizou-se de quarenta e seis parábolas baseadas em eventos comuns do cotidiano do povo, a fim de lecionar os princípios ético-morais de que era portador. Aos seus discípulos explicava-as, dando-lhes a entender que possuíam um nível de conhecimento maior e melhores condições de compreendê-los. Ao povo, porém, não pôde revelar todo o conteúdo dos seus ensinamentos. Prometeu, entretanto, um Consolador que, a seu tempo, re-estabeleceria todas as coisas (João 14: 15 – 17 e 26).
O Espiritismo, a partir de 1857, assume esse papel, apresentando-se como o Cristianismo redivivo, por ilustrar os postulados doutrinários cristãos em sua pureza primitiva. Cumpre o seu papel de atualizá-los, aprofundando conceitos e ensinamentos deixados por Jesus, respeitando e promovendo, como não poderia deixar de ser, seu conteúdo ético-moral como caminho único de compreensão das leis de Deus, da própria Divindade e do alcance, por conseguinte, da felicidade plena.